21 agosto, 2010

É o país que temos...

Parecia tão perto, mas afinal ainda está tão longe.
É frustrante! Querer, lutar e não se alcançar.
Este país tem tudo e não tem nada. Temos sol, praia, mar, verde, serra, neve, chuva. Ingredientes estes que poderiam ser a chave de uma confecção perfeitamente elaborada. Mas a magia perde-se quando se olha para as desigualdades que nos rodeiam. País de aparências que prefere viver na ilusão da lamentável realidade.
Bolsos cheios roubam as linhas que cozem os bolsos vazios. É arrebatadoramente triste! Lamentável diria. É vergonhosa a vida ridiculamente ostentosa que uns levam, assistindo à fome de outros. Agarrando no título do filme «Este país não é para velhos», muito interessante por sinal, atrevo-me a intitular Portugal com «Este país não é para mim».
Defendo o meu país, orgulho-me da minha pátria, sinto o que vivo, mas (in)felizmente vejo, oiço e leio. Orgulho-me da nossa história: país pequeno com grandes heróis e descobertas. Um dia o Mundo foi nosso! Mas infelizmente um dia o poder cegou-nos e fez-nos cair no abismo que ainda hoje nos assombra. Penso no que fomos e penso no que somos. A questão até tem a sua piada, lá isso é verdade! É tão notável o quanto evoluímos como indivíduos, como o que regredimos como nação.
Esta crise é mundial, não há dúvida. Mas porquê tanto alarido em Portugal? Pergunto-me se algum dia, após a ditadura de Salazar, não estivemos em crise?! As barras de ouro desaparecidas de um cofre misteriosamente mal fechado deram a este povo o dom da solidariedade. Sendo assim, e analisando bem os factos, é fácil responder a esta questão: sejamos solidários com o Mundo! Estão todos em crise, então nós também. Que estratégia perfeita: aproveita-se para passar a imagem aos mais ignorantes que a culpa não é nossa, mas que forçosamente entramos nesta grande bolha que é a crise mundial. Assim, ainda se consegue roubar mais uns tostõezinhos ao pobre ignorante que nada tem.
Um dos recentes exemplos de solidariedade deste país não me passou ao lado. A trágica situação da Grécia, que pouco difere da nossa sejamos honestos connosco próprios, comoveu-nos de tal forma, que oferecemos 2 mil milhões de euros em sua ajuda. O curioso é que tal decisão não precisou do consentimento de qualquer um de nós. Incrível! Depois de alguns aplausos, pergunto, ironicamente, se esta irrisória quantia foi suficiente? A mim pareceu-me pouquíssimo, porque não lhes dar tudo o que nos resta? Viva às aparências e à burrice!
Mais curioso ainda é a opinião de economistas portugueses, como é o caso de Filipe Garcia, quando refere que «se a situação grega se complicasse ainda mais, haveria um contágio aos restantes países periféricos da zona euro, como Portugal». Aqui coloca-se uma questão na minha cabeça, será que a Alemanha está assim tão longe da zona periférica para não ser atingida? Sem palavras. Economistas e doutores opinam ainda, que as vantagens resultantes desta ajuda, se tudo correr como previsto (e se assim não acontecer?), serão superiores ao esforço implicado. Vejo aqui outra curiosidade quando se trata da opinião de indivíduos que ganham mais do dobro do salário do cidadão comum.
É hilariante o quão solidários nós somos, que preferimos ver os nossos com fome a ver os outros. Definitivamente, voto na entrega do prémio Nobel de Bom Coração para Portugal. Ou então o da estupidez. Sim, acho que este último nos assentaria que nem uma luva.
A ganância individual, a corrupção e a burrice assombram o sol deste país. Revolta-me ver o pobre a trabalhar e a desesperar por 475€ por mês, que são nada mais que a conta certa para pagar a renda, as despesas da casa e a alimentação, chegando mesmo a faltar dinheiro para dar de comer aos filhos. Viva a salários miseráveis! Viva a impostos e preços altíssimos! Viva! Viva! Como é possível que bens tão essenciais como o pão não se encontrem por menos de 0,75€, ou seja 150 escudos. Por vezes convém fazer-se esta conversão para que a consciência do verdadeiro valor desça aos nossos olhos. 150$00 por um pão, onde o ordenado que entra na maioria das casas portuguesas não chega a 100 contos, ou seja 500€. Ridículo! Ainda se torna mais ridículo quando se está a falar de um país, em que as reformas são acumuláveis com outras reformas, onde indivíduos rotulados de doutores, deputados, ministros, e sabe-se lá mais o quê ganham milhares de euros por mês, roubando tudo o que podem aos que pouco ou nada têm.


Viva à corrupção! Viva à hipocrisia! Viva à desordem e à troca de prioridades! Viva aos submarinos! Viva às aparências! Viva à injustiça social! Viva a Portugal!

RN

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