19 junho, 2012

As feras. E a minha liberdade.

Sinto-me perdida neste mundo de feras. 
Oh mundo tremendamente cruel e injusto! Lugar onde viver em sociedade é algo imposto, tornando-se difícil ser diferente, fazer escolhas, pensar, ser espontâneo, genuíno. Tantas são as vezes que tento encontrar formas de escapar a este civismo hipócrita, a este círculo corrupto, onde o dinheiro e as aparências falam mais alto. Mas parece impossível, infelizmente.
Sinto-me presa a uma sociedade que nada me diz, mas que simultaneamente tanto fala. Oh gente que fala demais! Fala de coisas que pouco importam e quando fala do que deve, fá-lo da forma menos assertiva possível. Querem falar, falem; mas deixem-me ser livre do meu jeito. 
A necessidade de fugir daqui é enorme: preciso ver novos horizontes, sentir novas gentes, respirar novos ares, viver novas realidades. A distância cresce a cada dia que passa. Preciso de me encontrar com a minha liberdade, com o meu Ser... mas longe daqui. 
Que terra linda, que gentes agradáveis ao estrangeiro. Visto de fora, é o melhor lugar do mundo. Mas precisamos crescer de perto, porque a razão da nossa existência deve centrar-se no nosso círculo mais próximo. Devemos valorizar-nos mais, entreajudar-nos mais, chorarmos e sorrirmos juntos mais e mais. Mas o estrangeiro é mais simpático, tem mais dinheiro e é mais tudo aos nossos olhos. Que tristeza que sinto!

Estou tão só neste meu Mundo cheio de gente e de gentes. Preciso de ir ao encontro do meu verdadeiro Ser, da minha verdadeira realidade. Mas em silêncio, sem este ruído de quem fala e nada diz.
Deixem-me ao menos tentar, só saberei se sou capaz, tentando. Nem isso esta sociedade medíocre me permite. Viver assim não é certo. Correntes nos prendem de um jeito tão subtil como injusto. Este Mundo é de todos e não apenas de alguns que se acham donos dele.

Hoje estou assim, somente só. Pensativa.

RN
   


«Fiquei tão só, aos poucos. Fui afastando essas gentes assim menores, e não ficaram muitas outras. Às vezes, nos fins de semana principalmente, tiro o fone do gancho e escuto, para ver se não foi cortado. Não foi.»
[Caio Fernando Abreu]