21 maio, 2012

História dos Sentimentos

    Li este texto há poucos dias e achei-o maravilhoso. Devo realçar que todo o livro é apaixonante e viciante: aconselho-o vivamente.
   Sei que muitos de vocês até já o podem conhecer, mas nunca é demais relê-lo. Sabe tão bem: de uma imaginação e reflexão admiráveis, que me fizeram sorrir ao longo de toda a leitura. Confesso que terminei com um grito de surpresa e satisfação. Desfrutem e deleitem-se.

   «A base desta historiazinha, que adaptei, mandou-ma Martha Herzberg, uma terapeuta fantástica e querida amiga. Segundo ela, o autor é anónimo, mas desconfio que foi dela esta deliciosa ideia.
   Os Sentimentos Humanos certo dia reuniram-se para brincar. Depois de o Tédio ter bocejado três vezes porque a Indecisão não chegava a conclusão nenhuma e a Desconfiança estava a tomar conta, a Loucura propôs que brincassem às escondidas. A Curiosidade quis saber todos os detalhes do jogo, e a Intriga começou a cochichar com os outros que certamente alguém ali iria fazer batota.
   O Entusiasmo saltou de contentamento e convenceu a Dúvida e a Apatia, ainda sentadas a um canto, a entrarem no jogo. A Verdade achou que isso de se esconder não tinha graça nenhuma, a Arrogância fez cara de desdém pois a ideia não tinha sido dela, e o Medo preferiu não se arriscar: «Ah, vamos deixar tudo como está», e como sempre perdeu a oportunidade de ser feliz.
   A primeira a esconder-se foi a Preguiça, deixando-se cair no chão atrás de uma pedra, ali mesmo onde estava. O Optimismo escondeu-se no arco-íris, e a Inveja ocultou-se juntamente com a Hipocrisia, que, sorrindo fingidamente atrás de uma árvore, estava a abominar tudo aquilo. 
   A Generosidade quase não se conseguia esconder porque era grande e ainda queria abrigar meio mundo, a Culpa ficou paralisada, pois já estava mais do que escondida em si mesma, a Sensualidade estendeu-se ao sol num lugar bonito e secreto para saborear o que a vida lhe oferecia, porque não era nem parva nem fingida; o Egoísmo achou um lugar perfeito onde não cabia mais ninguém.
   A Mentira disse à Inocência que se ia esconder no fundo do oceano, onde a inocente acabou afogada, a Paixão meteu-se na cratera de um vulcão activo, e o Esquecimento já nem sabia o que estavam a fazer ali.
   Depois de contar até 99 a Loucura começou a procurar. Achou um, achou outro, mas ao remexer num arbusto espesso ouviu um gemido: era o Amor, com os olhos perfurados pelos espinhos.
   A Loucura tomou-o pelo braço e seguiu com ele, espalhando beleza pelo mundo. Desde então o Amor é cego e a Loucura acompanha-o. 
   Juntos fazem a vida valer a pena - mas isso não é coisa para os medrosos nem para os apáticos, que perdem a felicidade no matagal dos preconceitos, onde rosnam os deuses melancólicos da acomodação.»


Pensar é Transgredir, de Lya Luft

19 maio, 2012


Quanto mais leio, mais me apaixono pelos livros.
As frases, as palavras consomem.me.

Ao silêncio me denuncio, em segredo.

RN