Navegando pela vasto mundo que é a internet, encontrei uma peça muito interessante sobre o tão conhecido final de história "E viveram felizes para sempre". Nesta peça, o tema é abordado 'à minha maneira', pois quando leio um livro ou vejo um filme que termina desta forma tão pouco realista, sinto como se faltasse algo. Passo então a transcrevê-la:
« E viveram (momentos) felizes para sempre
Os contos de fadas, contos infantis e muitas histórias da modernidade
têm o delicioso famoso final feliz. Mas as histórias reais têm finais
felizes? A verdade é que um final feliz nunca é um final, apenas o fim
feliz de um momento.
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Cinderela por Thomas Czarnecki* |
A maior parte das histórias infantis e muitas destinadas a adultos
têm o fim de sua trama encerrada pelo alcance da felicidade. A busca
incessante por finais felizes e pela resolução de problemas faz parte do
anseio da humanidade por equilíbrio. Sendo a literatura, o reflexo do
homem e seu período histórico nossas histórias não poderiam ser
diferentes.
Os contos de fadas como A Bela e Fera, Branca de Neve e os sete
anões, Cinderela, Rapunzel... São os oficiais “E viveram felizes para
sempre!”. Encerrar um conto de fada destinado às nossas crianças e
fazê-las acreditar que no final terão “finais felizes”, é algo que no
mínimo deveria ser alvo de reflexão, enquanto o que deveria ser passado é
“E tiveram
momentos felizes para sempre!”.
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Branca de Neve por Thomas Czarnecki* |
O não “viveram felizes para sempre” está enraizado na humanidade, Abraham Maslow, psicólogo americano, desenvolveu a
Hierarquia das Necessidades de Maslow
ou Pirâmide de Maslow, a qual sugere que as necessidades de nível mais
baixo devem ser satisfeitas antes das necessidades de nível mais alto.
Maslow afirma que após satisfazer uma necessidade e, assim, atingir a
felicidade, o sentimento de satisfação transforma-se em outra
necessidade que precisa ser saciada, provando que a felicidade é
momentânea e nunca, plena. Assim, o mais pleno de felicidade que
alcançamos tem curta duração, sendo impossível o “para sempre”.
Afinal, por que as histórias normalmente contadas para crianças
retratam algo tão parcialmente verdadeiro? Ao que parece, contar para
uma criança que seu herói ou heroína não teve um final feliz é brutal.
Há quem acredite que as crianças não estão preparadas para lidar com
finais “reais”, enquanto fazê-lo pode ser muito mais benéfico para sua
formação. Ou simplesmente, dizer “E viveram
momentos felizes
para sempre” poderia solucionar a ideia de que há felicidade no final
de qualquer história seja fictícia, real ou protagonizada pelo próprio
leitor.
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Chapeuzinho Vermelho por Thomas Czarnecki* |
Dois bons exemplos de finais nada felizes são: O do herói grego
Aquiles, que morreu com uma flecha em seu único ponto fraco, mostra que
nem sempre heróis sobrevivem a uma batalha, não deixando de estar
cercado de momentos de felicidade. Aliás, existem inúmeras histórias
gregas que são verdadeiras tragédias, mas nem por isso deixam de ser
encantadoras. E o de Marina, em um livro mais contemporâneo, de Carlos
Ruiz Zafón, em que a protagonista que dá o nome ao livro vive diversas
aventuras envoltas em solução de um mistério, mas nem por isso é poupada
de seu destino, ela morre vítima de doença.
Há na literatura um bom número de exemplos que vão contra o “E
viveram felizes para sempre”, mas há quem insista no inverossímil final
feliz em histórias escritas, filmes, poemas. Mais real é ter momentos felizes!!!
*O fotógrafo Thomas Czarnecki, inconformado com o “felizes para sempre”, criou a série “From Enchantement to Down” que transforma as histórias que parecem sonhos em verdadeiros pesadelos.
Artigo da autoria de Alexia G. Alves.
Ler, reler, revisar, emocionar, escrever, chorar, rir: vida minha!. »