Olho por entre a janela e vejo um dia lindo, onde o sol
abraça o mundo, fazendo o verde parecer mais verde e o azul mais azul. Tudo
parece tão mágico ou não fosse esta minha vontade de correr e não mais voltar.
Tantas são as condicionantes que me prendem a toda esta paisagem, que resolvo
ficar. Será o certo? Ninguém o sabe, nem eu. Mas fico.
Saio à rua e a paisagem muda. Tudo me é estranho. O medo
assola-me e eu procuro-te. És o meu consolo, o meu escudo, o meu abrigo. Mas
não sei onde estás, não sei que direção devo tomar. Sinto-me tão frágil: tenho
medo. Admito-o: sinto medo. Caminho e caminho e nada sei de ti. Nenhum sinal.
Que vontade doida de te ver: inexplicável.
A ansiedade chega. Corro por entre as ruas e ruelas, caminhos
nunca percorridos levam-me para uma dimensão rural que me confunde. O medo
persiste e tu não estás. Continuo sem saber de ti. Só vejo branco. Quero estar
a sonhar: fecho os olhos com a intenção de acordar, mas não os consigo abrir
(penso). Estou cega e nada vejo. Que pesadelo! O medo invade a minha alma e
sinto-me como um grão de areia: tão pequenino, tão frágil, tão pouco relevante
e que nada vale só. Estarei a enlouquecer?
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Noell S. Oszvald |
Acalmo-me, respiro fundo e descalço-me. Sinto o chão como
nunca o senti: como é frio, áspero e cru para os pés que nada mais conheceram
senão as palmilhas suaves do calçado moderno. Que choque! A natureza une-se à
verdade da Vida e mostra-me o que nunca quis ver. Continuo sem saber de ti.
Ouço os ruídos de tempestade, volto a sentir o cheiro da tal
brisa que foi e não voltou. Sorrio.
Com passos lentos, caminho rumo ao horizonte que agora mais
me parece um vazio sem cor. Permaneço cega, mas a minha força é mais forte e
procuro tudo aquilo que um dia me fez sorrir, acreditar e viver. Percorro esta
pequena história em busca do meu abrigo, aquele que me trará de volta a
plenitude e as cores da vida.
Os meus pés caminham por entre a lama, rebocando todo o meu
corpo molhado pela chuva que começara a cair sem aviso prévio. Que sensação de
liberdade. Mas estou perdida. E continuo sem saber de ti.
Sem nada ver, sinto duplamente a tempestade: as gotas
gélidas alteram a minha temperatura, presumo que a lama pisada tenha alterado
as cores das minhas roupas, e os sons vindos do céu como dos campos em redor
são algo de inexplicável. Sinto-me perdida, mas duplamente feliz. Quero
partilhar este momento contigo. Pergunto-me se estarei na direção certa. Pergunto-me
se também me procuras?
RN